3 de fev. de 2007

Derrota do Vasco

Ainda sobre o episódio Baden Baden, li que três dos quatro fundadores haviam deixado o negócio no ano passado. Só ficou um deles, sobrecarregado com os encargos.
Em função de seu sobrenome (Vasconcelos), é conhecido como Vasco, nome de time de futebol (não dos meus preferidos, apesar de alvinegro). E é justamente numa analogia com o futebol que tento imaginar o sentimento dele nesse momento.
Digo isso por que precisou de ousadia para produzir cervejas gourmet em um mercado no qual grande parte dos consumidores escolhe o mais barato líquido que lembre cerveja para encher a cara no fim de semana. Mesmo assim, produziu a primeira versão de alta fermentação (ale) de um país em que a cada esquina se ouve que “a melhor cerveja que existe é a gelada”.
Começou a ver seu empreendimento crescer, virar sinônimo de qualidade. Chegava a hora de colher os frutos, de celebrar o sucesso. Eis que... bom, o fim da história todo mundo sabe.
É como se no último minuto da decisão do campeonato o craque recebesse a bola no campo de defesa, sob forte marcação. Com um drible de corpo, surpreende o marcador e sai com a bola dominada, rompendo a linha divisória do gramado.
Percebe outro defensor vindo em sua direção disposto a parar a jogada a qualquer custo. Com um toque sutil coloca a bola entre as pernas do zagueiro e segue em direção ao gol. Mais um “tapa” na pelota e dois outros adversários já ficaram para trás.
Sem se intimidar com a sola da chuteira do último zagueiro apontada para sua canela, levanta a bola e deixa o adversário caído depois de um chapéu desconcertante.
O estádio inteiro está de pé. Em cada cidade ou vilarejo onde há uma televisão ligada as pessoas estão em silêncio, com os olhos vidrados à frente da tela, esperando apenas a definição da jogada. Só falta o goleiro, nada que um toque sutil não resolva. A bola vai entrando em câmera lenta. Enquanto corre em direção à torcida, de soslaio dá uma última olhada pra ter certeza de que a redonda foi mesmo descansar no fundo das redes. É justamente nessa hora que, atônito, observa a bola triscar a trave e escorregar em direção à linha de fundo.
Cabisbaixo, respira fundo e é consolado por um dos companheiros de time. Levanta a cabeça, olha o placar eletrônico e pensa: “Tudo bem. Está 2 X 0 pra nós, não vai fazer falta. Estamos no lucro”.
Já no vestiário, debaixo do chuveiro, não consegue mais disfarçar. “Perdi a chance de fazer história”.

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